domingo, 30 de maio de 2010

A inconsistência da doutrina espírita

Voltando a vida virtual, voltei a ler os blogs que acompanho e encontrei uma postagem bem interessante, que escolhi colocar aqui também para a apreciação de vocês.

Por Hermes C. Fernandes

Devido à popularidade do filme que celebra a memória de Chico Xavier, muita coisa tem sido dita em blogs apologéticos cristãos acerca do espiritismo.
Devo admitir o extraordinário trabalho que instituições espíritas têm realizado, principalmente em favor das camadas mais humildes da sociedade. Isso é indiscutível. Não quero aqui falar sobre a doutrina que tem sido o principal fator de divergência entre o espiritismo e a fé cristã. Deixemos pra falar da reencarnação numa outra oportunidade.
Gostaria, antes, de revelar a principal razão porque o espiritismo não exerce qualquer atração sobre mim. Sou pai de uma criança especial. Em busca de tratamento que apressasse seu desenvolvimento psicomotor, eu, Tânia e Rayane fomos parar na ABBR, uma das mais requisitadas instituições do Rio de Janeiro. Louvo a Deus por seus profissionais abnegados que esgotaram todos os seus recursos para que Rayane progredisse.
Freqüentávamos aquela instituição duas vezes na semana. Era um longo caminho entre Jacarepaguá e Jardim Botânico. Entre as crianças que lá se tratavam nos mesmos dias de Rayane, havia uma que chamava nossa atenção pela gravidade de sua situação. Ela não tinha os pés e as mãos formados. Era uma imagem dura e difícil de se ver. Confesso que incomodava. Seus pais pareciam pessoas muito humildes (a julgar pela indumentária, eram evangélicos pentecostais).
Um dia sentamo-nos ao lado de uma senhora espírita que começou a tanger comentários sobre aquela criança.
- Está vendo aquela criança ali? Deve ter sido uma pessoa muito má em sua vida anterior. Por isso, não tenho pena não! Ela está pagando pelo que fez em outra vida.
Aquilo me deixou perturbado. Nunca havia ouvido este tipo de argumento. Imagine acreditar que minha própria filha estava pagando por pecados cometidos numa encarnação anterior! Simplesmente, inconcebível!
Foi nesta época que descobri a graça de Deus. E foi justamente através do problema de minha filha. Minha conclusão é que a doutrina espírita é o oposto da doutrina da graça.
Dei-me conta de que muito daquilo que tem sido feito por instituições espíritas em nome da filantropia, é estimulado por esta noção equivocada de que Deus nos dará na próxima encarnação, de acordo com que houvermos feito de bom ou mal na atual. Portanto, a motivação por trás de tais obras não é o amor, o amor gratuito, desprovido de interesse.
Infelizmente, tais instituições tomaram a bandeira do amor e a transformaram em slogan. Enquanto isso, igrejas cristãs neglicenciam o principal mandamento de Cristo. O bem que fazemos ao próximo não pode ser alimentado pelo amor próprio. Não o fazemos no afã de garantirmos nem o céu, nem uma vida melhor na próxima encarnação. Pelo contrário, devemos fazê-lo visando tão-somente a felicidade alheia.
A doutrina da reencarnação transformou-se num “boi de piranha”, que nos distrai do verdadeiro problema por trás da teologia pregada no espiritismo.
O que se deveria combater é o amor próprio. Se removermos este “tijolo”, o castelo inteiro vem abaixo. Mas como combateremos uma doutrina que já encontrou plena aceitação em nosso meio?
Se a pedra atirada por Davi acertasse o pescoço ou um dos ombros de Golias, ele teria permanecido de pé. O tiro tem que ser certeiro. Destronando o amor próprio, não sobra mais nada.
Temos que edificar nosso castelo teológico sobre fundamentos estritamente bíblicos, e não sobre areia movediça. O fundamento de nossa fé é o amor de Deus por nós, que por sua vez, nos impulsiona a amá-lo sobre todas as coisas, e amar a todos ao nosso redor, sem esperar absolutamente nada em troca. Isso é graça.
De que adianta criticar instituições espíritas, se as igrejas ditas evangélicas assimilaram a pedra fundamental da doutrina pregada e vivida por Chico Xavier? Apesar de não endossarmos a doutrina da reencarnação, bradamos de nossos púlpitos acerca de uma graça meia-sola, onde os méritos humanos estão acima do favor imerecido oferecido em Cristo.
Pau que dá em Chico... também dá em reverendos, bispos, apóstolos e afins.